Olinda tem na exuberância cultural uma de suas marcas mais fortes, sendo a mais antiga entre as cidades brasileiras a receber o título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. Essa riqueza cultural leva, todos os anos, em média um milhão de visitantes à cidade, que se somam aos quase 390 mil habitantes locais. Com a intenção de oferecer mais qualidade de vida a tantas pessoas, Olinda deu hoje um novo passo com a realização do Alinhamento Estratégico para a implementação de seu plano de mobilidade urbana. A cidade que há menos de uma semana completou 481 anos de história prepara-se para os próximos pensando na mobilidade sustentável.
O Prefeito Renildo Calheiros e Nívea Oppermann, Diretora de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, assinaram o termo de cooperação técnica que sela a parceria entre a instituição e a cidade. Nívea ressaltou a importância dos planos como ferramentas capazes de orientar o desenvolvimento das cidades: “Planos devem ser instrumentos efetivos do governo, uma ferramenta do gestor para fazer os projetos e desenvolver a cidade. Serve para a população saber o que vai acontecer na sua cidade”.
Oswaldo Lima Neto, Secretário de Transportes; Renildo Calheiros, Prefeito de Olinda; e Nívea Oppermann, Diretora de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil Cidades Sustentáveis (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Com o trabalho conjunto espera-se construir um plano capaz de beneficiar tanto moradores, em suas necessidades e deslocamentos diários, quanto os turistas que todos os anos visitam a cidade. E, na visão do prefeito, isso será possível a partir do investimento na qualificação do transporte público: “Não há como encontrar boa solução sem pensar nos sistemas de transporte coletivo – pois por mais avenidas e viadutos que haja, esse espaço vai ser sempre superado pela quantidade de veículos. Queremos desenvolver um plano bem estudado, bem debatido com a sociedade, para orientar todas as mudanças que virão pela frente”.
Olinda está apenas sete quilômetros distante do Recife. Se por um lado a proximidade com a capital pernambucana gera oportunidades de emprego, os deslocamentos diários de quem mora em Olinda e trabalha na capital são um desafio para a mobilidade: “Um dos principais problemas de mobilidade de Olinda é o movimento de pessoas que vão trabalhar em Recife. Temos o movimento de saída pela manhã e o de volta ao fim do dia que geram congestionamentos, onerando a qualidade de vida”, apontou Oswaldo Lima Neto, Secretário de Transporte e Trânsito de Olinda.
O transporte coletivo, em Olinda, é integrado ao Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife, ou apenas Grande Recife, o consórcio responsável pelas linhas de ônibus da região metropolitana da capital pernambucana. Dois corredores exclusivos – um nas avenidas Getúlio Vargas e Governador Carlos de Lima Cavalcanti e outro no eixo Norte-Sul – já contribuem para a priorização do transporte coletivo, mas a cidade quer mais: “Nossa meta é diminuir o uso do carro. Investindo no transporte coletivo e não motorizado. Poucos sabem, mas 24% dos deslocamentos em Olinda já são feitos a pé”, comentou o Secretário.
Oswaldo Lima Neto: plano deve priorizar o transporte sustentável e trazer mais qualidade de vida para a população (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Visando a qualificar as condições dos pedestres, um dos pontos que devem ser explorados no PlanMob de Olinda é a sinalização horizontal e vertical. Outro aspecto relevante, explicou o secretário, “será a transformação das duas ciclovias que existem na cidade uma rede cicloviária, com ciclovias, ciclofaixas e ruas compartilhadas com limites de velocidade reduzidos”.
A TECTRAN, empresa que venceu a licitação para o desenvolvimento do Plano de Mobilidade de Olinda, explicou a metodologia que vai ser utilizada nos processos de análise, estudos e elaboração do documento. A criação de uma Olinda virtual, com base em dados de pesquisas e da própria cidade, vai permitir a análise de informações de tráfego, transporte e uso do solo e ajudar a testar as alternativas e soluções sugeridas para o plano. Eduardo Coelho, diretor da empresa, lembrou que o que está em jogo é o futuro da cidade: “O plano de mobilidade não existe para resolver os problemas que a cidade enfrenta agora, e sim para pensar no futuro da cidade. Projetá-la para frente. É isso que vamos fazer em Olinda”.
Visão para o futuro
Somar esforços técnicos, políticos e sociais está na receita para tornar a mobilidade mais sustentável nas cidades. Outro elemento essencial é a visão de futuro: para garantir às próximas gerações um ambiente mais saudável e sustentável, é preciso saber que tipo de cidade se almeja ser quando esse futuro chegar.
Nívea Oppermann convidou os participantes do workshop a pensar na Olinda em que gostariam de viver nos próximos anos. “É essa a pergunta que precisamos responder. Esse é o momento de pensar na Olinda de amanhã, na Olinda que queremos para o futuro. E esses planos têm que trazer as diretrizes para atingirmos esse objetivo”, salientou a diretora.
O debate a levou os participantes à reflexão sobre os anos por vir. Para a cidade pernambucana, esses anos devem ser de trabalho pelo desenvolvimento sustentável, e a busca é por uma cidade com desenvolvimento inclusivo, qualidade urbana e ambiental, e agradável de se viver. “O gestor da cidade tem a função de tomar algumas decisões importantes e corajosas para tornar a visão da cidade uma realidade, para que isso não fique só no papel”, acrescentou Nívea.
Sete passos rumo ao Plano de Mobilidade
Tanto a construção quanto a implementação de um plano de mobilidade urbana são processos que levam tempo e dependem do trabalho coletivo. Na tarde desta sexta-feira (18), os técnicos da Prefeitura de Olinda tiveram a oportunidade de conhecer as etapas necessárias para o desenvolvimento de um plano completo e bem estruturado.
Lara Caccia, Especialista de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, apresentou a metodologia desenvolvida pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis, que já auxiliou diversas cidades no desenvolvimento de seus planos e será agora aplicada em Olinda. Os Sete Passos – Como Construir um Plano de Mobilidade Urbana explicam as diferentes etapas para o desenvolvimento do plano: preparação; definição do escopo; procedimentos gerenciais; elaboração; aprovação; implementação; e avaliação e revisão. “Em todas essas etapas é fundamental considerar a participação da sociedade. Ouvir as pessoas é essencial para entender suas necessidades e fazer um trabalho de qualidade”, destacou Lara.
Um plano de mobilidade sustentável deve priorizar pedestres, ciclistas, transporte coletivo e ativo, sempre considerando os preceitos da acessibilidade universal. Na elaboração, o principal objetivo deve ser alinhar as expectativas e necessidades entre a gestão municipal e a população para que, dessa forma, seja possível construir um plano ao mesmo tempo sustentável e democrático.
Trabalho coletivo ajuda a definir diretrizes
Conhecida a metodologia de desenvolvimento do plano, o momento é de trabalho de prático e coletivo: divididos em grupos, os cerca de 50 participantes – entre técnicos de diferentes secretarias, representantes de associações e da sociedade civil – elencaram as medidas que julgam necessárias serem contempladas no plano.
Foram selecionados oito eixos de discussão: veículos privados; táxis e transporte escolar; sistema viário; espaços públicos e novas urbanizações; pedestres e ciclistas; participação popular; transporte público de passageiros; e transporte de carga. As especialistas do WRI Brasil Cidades Sustentáveis conduziram a atividade com o apoio de Karla Leitte, da Secretaria de Transportes de Olinda. “Estou muito satisfeita de ver todas essas entidades envolvidas e atentas, junto a representantes do Recife interessados na integração entre os planos das diversas cidades da Região Metropolitana”, comentou Nívea.
(Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Na cidade com uma das maiores densidades demográficas do Brasil e onde 98% do território é de área urbana, o engajamento da Prefeitura em qualificar a mobilidade demonstra o compromisso que deve ser exemplo para outras tantas cidades brasileiras: investir no desenvolvimento urbano sustentável e oferecer mais qualidade de vida à população. Ao final de um dia inteiro de trabalho, Olinda pode dizer que está mais próxima do objetivo de se tornar um ambiente ainda melhor para seus moradores. A programação do Alinhamento Estratégico termina na manhã de sábado (19), com a definição dos principais atores envolvidos e o caminho para execução do plano de mobilidade, além do mapeamento de riscos e oportunidades.
Participantes do Alinhamento Estratégico de Olinda (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Fonte: WRI BRASIL